domingo, 11 de setembro de 2016

Medo da solidão faz com que as pessoas suportem casamentos insuportáveis

domingo, 11 de setembro de 2016


Ainda não completou um século da entrada do amor no casamento. Foi a partir de 1940 que o matrimônio por amor passou a integrar as relações. Imaginava-se que assim todas as necessidades afetivas seriam satisfeitas. A união por amor resultaria num ser único, completo, insubstituível.

O problema é que na maioria das vezes isso não acontece. O otimismo e a esperança não deixam que as pessoas raciocinem, uma coisa é a emoção e outra a realidade do conjunto de regras que opera sobre o casamento.

A escritora americana Laura Kipnis critica o modelo de casamento atual, principalmente, quanto à ideia de que é necessário “trabalhar” a relação para que o casamento seja satisfatório. “Quando a monogamia vira trabalho, quando o desejo é organizado por contrato, com a contabilidade registrada e a fidelidade extraída como o trabalho dos empregados, com o casamento parecendo uma fábrica doméstica policiada por uma rígida disciplina de chão-de-fábrica planejada para manter as esposas, os maridos e os parceiros domésticos do mundo agrilhoados à maquinaria do status quo – será que é isso que realmente significa um ‘bom relacionamento’?”

Por que aguentar um casamento insatisfatório? O sonho da estabilidade e o medo da solidão fazem com que as pessoas suportem o insuportável. Aos poucos os parceiros vão se tornando estranhos convivendo no mesmo ambiente. Por medo de se separar e se sentir só muitos, nesse caso, optam por não pensar na própria vida.

O historiador inglês Theodore Zeldin afirma que o medo da solidão assemelha-se a uma bola e uma corrente que, atados a um pé, restringem a ambição, são um obstáculo à vida plena, tal e qual a perseguição, a discriminação e a pobreza. Se a corrente não for quebrada, a liberdade continuará um pesadelo.

Segundo ele, a crença mais gasta, pronta para a lixeira, é que os casais não têm em quem confiar salvo neles próprios, o que é tão infundado quanto a crença de que a sociedade condena os indivíduos à solidão.

A oposição a essa análise tão clara é a histórica ilusão que o Amor Romântico propicia. A suposição de que um parceiro possa nos completar e assim possamos nos tornar uma única pessoa, ideia que impede que enxerguemos o óbvio: a solidão é uma das nossas características existenciais. Esse conflito com o real tem provocado casamentos insatisfatórios com duração cada vez menor.

Não há dúvidas de que um casamento pode ser ótimo, mas esse resultado depende principalmente de uma reformulação das expectativas a respeito da vida a dois. A ideia de fusão, de que todas as necessidades serão atendidas pelo parceiro, são passos em direção a profundas frustrações.

Ao iniciarmos um relacionamento é importante não idealizar o parceiro e percebê-lo do jeito como ele de fato é – com características que apreciamos e outras que não admiramos nem um pouco. Só assim fica mais fácil decidir se realmente desejamos permanecer ao seu lado.

Regina Navarro Lins

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