A cama que fica ao lado do berço do pequeno Davi Henrique deveria ser usada como descanso pela mãe dele, mas na verdade, é onde Kimberlyn Cristina Pontes, de 16 anos, passa a maior parte do dia. Depois de quase sete meses internada em um hospital de Sorocaba, a jovem que descobriu a gravidez após sofrer um acidente de carro e ficar tetraplégica voltou para casa em Araçoiaba da Serra (SP) e ainda se adapta à sua nova condição física e aos cuidados com o filho, que completa três meses de vida em fevereiro. O G1 acompanhou um dia da rotina da jovem que viu a vida mudar completamente após a batida.
A jovem sofreu um acidente de carro em maio do ano passado quando voltava da casa do namorado de carona com um amigo das duas irmãs, que estavam em um churrasco e passaram para pegá-la. Ela lembra que demorou para perceber que o motorista estava bêbado, mas assim que notou, colocou o cinto.
Segundo Kimberlyn, o motorista começou a fazer manobras arriscadas em uma estrada vicinal do bairro Cercado e acabou batendo o veículo em um pilar de madeira. Dos cinco passageiros do veículo, apenas ela teve ferimentos graves. Todos sobreviveram sem sequelas.
Um "passo" de cada vez
Logo que acorda, Kimberlyn recebe os primeiros cuidados da mãe, Luciana Pontes, de 41 anos. "Eu dou café da manhã, os remédios para ansiedade e faço a parte da fisioterapia que aprendi no hospital, porque a gente ainda não conseguiu que um profissional venha em casa e faça isso. Está sendo uma luta na prefeitura, mas eles prometeram resolver logo isso. Então, eu mesma busco sempre mexer no corpo dela, para não ficar parada."
Logo que acorda, Kimberlyn recebe os primeiros cuidados da mãe, Luciana Pontes, de 41 anos. "Eu dou café da manhã, os remédios para ansiedade e faço a parte da fisioterapia que aprendi no hospital, porque a gente ainda não conseguiu que um profissional venha em casa e faça isso. Está sendo uma luta na prefeitura, mas eles prometeram resolver logo isso. Então, eu mesma busco sempre mexer no corpo dela, para não ficar parada."
Tanta é a dedicação e a fé da mãe na hora de fazer a fisioterapia que em janeiro, a adolescente que foi diagnósticada inicialmente com tetraplegia, voltou a sentir o pescoço ainda no hospital e agora também consegue movimentar os braços. "Eu estava na cozinha, ela na sala e me chamou para mostrar o que conseguia fazer. É uma alegria muito grande. Eu até brinquei com ela: 'Está vendo que a fisioterapia da sua mãe funciona?'", lembra a mãe da jovem.
Apesar do empenho da mãe, ambas não descartam a ajuda de um profissional da área. "Ela precisa de um fisioterapeuta mesmo. O que eu faço é o básico e ela precisa de algo mais intenso, uma reabilitação e isso só um profissional pode fazer".
Kimberlyn concorda com a mãe e crê que com essa ajuda ela irá contrariar de novo a medicina e, assim, voltar a andar em breve. "Eu sempre aceitei a minha condição física, nunca fiquei em depressão, mas é difícil. Só que com isso [as sessões da fisioterapia] eu espero recuperar bastante o movimento do meu corpo. Afinal, antes eu não mexia nem o pescoço e agora eu sinto o corpo, mexo os braços, mas não consigo mexer as pernas ainda. Só que eu me imagino, sim, andando de novo", afirma a jovem.
Enquanto isso, Kimberlyn comemora a evolução do seu quadro de saúde e pequenas conquistas, como apoiar - com bastante dificuldade - o filho no colo. Davi nasceu de cesariana e sem nenhuma complicação médica.
Apesar de conseguir movimentar os braços, ela ainda não recuperou a habilidade dos dedos a ponto de segurar um objeto com firmeza, mas acredita que isso seja só uma questão de tempo e assim poderá participar mais dos cuidados com o filho. "Ele fica deitado comigo. Eu pego ele no colo, mas ainda não consigo dar de mamar para ele".
Luciana também crê que a filha possa voltar a andar, apesar de ter ouvido dos médicos que talvez isso não ocorra. "Eu não consigo imaginar um futuro para ela assim [sem andar]. Estou vivendo dia a dia, mas penso em um futuro semelhante ao que ela sempre foi: andando e cuidando do Davi. Pode até demorar, mas isso vai acontecer, sim. Porque eu creio muito nisso. Cada vitória é uma conquista".
Ajuda de dentro e fora de casa
Responsável por todos os cuidados com a filha e o neto, Luciana, que era balconista de supermercado, não conseguiu voltar a trabalhar após o acidente. Para poder manter as contas de casa em dia e ainda arcar com os custos do tratamento, ela afirma que conta com a ajuda de várias pessoas que se comoveram com a história de Kimberlyn.
Além de terem recebido doações de fraldas para a jovem e para o filho, a família ainda ganhou móveis para o bebê, cestas básicas e até dinheiro para ela arcar com as contas, como de água, luz e aluguel.
"Graças a Deus apareceram várias pessoas solidárias. Muita gente procura a gente para ajudar. Vem em casa, chama no Facebook, no WhatsApp. Estou vivendo de doações e a gente precisa disso todos os meses, porque aluguel é todo mês, né. E a gente não tem uma casa própria. Tem conta de luz e água também".
No entanto, não é só de ajuda financeira que a família precisa, mas também de mão de obra. Tanto que os outros três filhos de Luciana, que moram com ela, têm papel fundamental nos cuidados com a irmã e com o pequeno Davi. Até a caçula da matriarca, Vitória, de apenas dois anos, faz questão de ajudar a irmã e paparicar o sobrinho. "Ela ajuda bastante. Pega água para mim e pergunta se estou com fome. Tem dois anos, mas não parece, " diz Kimberlyn.
Kimberlyn conta ainda que Vitória também ajuda nos cuidados com o sobrinho a ponto de falar que ele "é dela". "Eu falo 'Vitória, cadê meu filho?' Ela fala 'não é seu filho, é nosso'. Antes eu que cuidava dela com todo amor e agora ela, minha mãe e meus outros irmãos cuidam de mim e do meu filho também. Ainda bem que voltei pra casa, não aguentava mais ficar no hospital. É muito bom estar perto de todos eles de novo", finaliza a jovem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário