Se criar uma criança só já não é algo fácil, imagine oito filhos, e de idades completamente diferentes!
Mas, o sonho de ser pai do jornalista e microempresário Éderson Flavio Ribeiro, morador de Taubaté (SP), falou mais alto. “Muitas pessoas pensam que somente as mulheres desejam ter filhos.
Mas homem também tem instinto paterno”, diz ele.
A expressão não é um exagero. Em 2002, ele começou a ter sonhos recorrentes nos quais via um menino. Na época, ele namorava uma jovem de 17 anos. Éderson dizia que eles teriam no mínimo quatro filhos quando se cassassem. O namoro durou dois anos, mas o sonho de ter filhos permaneceu vivo. “Sou mórmon e, em minha religião, sonhos são compreendidos como revelações e senti que precisava fazer algo a respeito.”
Mesmo ouvindo de pessoas que seria impossível ele adotar uma criança, Éderson começou a visitar abrigos de crianças, numa tentativa de encontrar o menino que aparecia nos seus sonhos. “As pessoas diziam que seria impossível um homem solteiro ser pai adotivo. Primeiro eu teria que me casar, orientavam. Não que a lei não permitisse, mas o preconceito ainda era grande e os juízes não aprovavam.”
Nesse meio tempo, ele teve problemas de saúde e precisou mudar de cidade, sem deixar para atrás o sonho da paternidade. Éderson descobriu que muitos adolescentes que moravam nesses abrigos iam parar nas ruas quando completavam 18 anos. Foi quando uma amiga lhe contou a história de Anderson, um jovem que estava desesperado, pois estava vivendo essa situação. “Ele não queria ser adotado, mas decidi acolhê-lo por um tempo”, lembra Éderson.
“Quando cheguei ao abrigo para conhecer o Anderson, senti algo muito forte. Enquanto conversávamos, outro menino começou a correr perto de nós. Ao olhar para trás, o reconheci. Era o garoto que sempre via nos sonhos. Seu nome era Eduardo e tinha 13 anos”, lembra Éderson.
Eduardo chegou ao abrigo com seis anos de idade. Quase foi adotado por três famílias diferentes, que não puderam ficar com ele. “Nas duas primeiras, as mães conseguiram engravidar e desistiram da adoção. Na terceira, o marido era alcoólatra e o conselho tutelar pediu que a mãe adotiva escolhesse entre ele e a criança, mas ela preferiu ficar com o marido”, explica Éderson.
A adoção do menino levou três meses para ser concretizada. Éderson precisou passar por uma avaliação psicológica e comprovar que não tinha antecedentes criminais. Éderson, Anderson e Eduardo formaram então uma família.
O jornalista começou a trabalhar como voluntário no abrigo de onde vieram os filhos. Ele fazia visitas e doava brinquedos. Três meses depois, os funcionários ligaram para ele para falar sobre um menino de quatro anos, Jean, que sofria bullying das outras crianças por ser muito bonzinho. “Perguntaram se eu estaria interessado em adotá-lo também, pois ninguém estava. Não resisti.”
Ainda se juntaram à família os dois irmãos biológicos de Jean, Bruno, na época, com 11 anos e Rafael, que tinha 13, também ex-moradores do abrigo onde o irmão estava. Mas, ainda existia mais espaço no coração de Éderson. Ele se tornou palestrante de grupos de apoio à adoção e abraçou a adoção tardia.
“Certa vez, fui participar de um evento em São Paulo e fiquei sabendo de dois irmãos que estavam em Guarapuava, no Paraná, Luiz Fernando, 18, e Rodrigo, 14. Eles também haviam passado por experiências dolorosas e tinham sido devolvidos.”
Éderson perguntou aos filhos o que eles achavam de ganhar mais dois irmãos. “Eles disseram: ‘ah, pai, onde cabem cinco cabem sete’. Lá fui eu para Guarapuava em uma viagem que durou 15 horas. Entrei com o pedido de guarda e levou seis meses para a adoção sair. Agora tinha sete filhos.”
Quando completou 18 anos, Rodrigo voltou à Guarapuava com o pai para que ele visitasse os amigos e as tias do abrigo. Ao chegar lá, Éderson conheceu um garotinho que o chamou para conversar. O menino disse que também gostaria de ser adotado e que estava comendo pouco e dormindo no sofá. “Não tinha ido lá para adotar ninguém, mas ele estava pedindo socorro”, lembra Éderson.
Éderson manteve contato com Kelvin por um bom tempo. Novamente, ele quis saber a opinião dos filhos, que apoiaram sua ideia de adotar mais uma criança. “Brinco que Kelvin, que na época estava com 15 anos, é ‘o último dos moicanos’, meu oitavo filho. Pelo menos, por enquanto.”
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