terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Qual o segredo para viver bem? Lições do mais longo estudo sobre felicidade

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Só o título já chama a atenção. Afinal, quem é que não quer ser feliz? Robert Waldinger é psiquiatra, psicanalista e sacerdote zen, além de diretor do estudo da Universidade de Harvard, tratado neste texto. A fala dele no TED já teve mais de 14 milhões de visualizações e, é claro, chamou nossa atenção. Por isso resolvemos traduzir tudo de bacana que ele tem pra nos dizer:
O que nos mantém saudáveis e felizes à medida que atravessamos a vida? Se você fosse investir agora num futuro melhor, onde você colocaria seu tempo e sua energia? Uma pesquisa recente perguntou quais eram as metas mais importantes da vida, a maioria disse que queria ser rico e/ou famoso.
A ideia vendida sempre é que precisamos nos dedicar para trabalhar, se esforçar mais e assim conseguir mais. Ficamos com a impressão de que essas são as coisas que precisamos buscar para ter uma vida boa. Mas e se pudéssemos ver como vidas inteiras se desdobram através do tempo? E se pudéssemos estudar as pessoas a partir do momento em que eles eram adolescentes até a idade avançada para ver o que realmente mantém as pessoas felizes e saudáveis?
O “Harvard Study of Adult Development”  é o estudo mais longo da vida adulta que já foi feito. Durante 75 anos, seguimos a vida de 724 homens, ano após ano, perguntando-os sobre trabalho, vida doméstica, saúde, sem saber como suas histórias de vida iriam se revelar.
Estudos como este são extremamente raros. Quase todos os projetos deste tipo desmoronam em uma década porque muitas pessoas abandonam o estudo, ou o financiamento para a pesquisa acaba, ou os pesquisadores se distraem, ou morrem, e ninguém mais fala do assunto. Mas através de uma combinação de sorte e da persistência de várias gerações de pesquisadores, este estudo sobreviveu. Aproximadamente 60 dos 724 homens originais ainda estão vivos, ainda participando do estudo, a maioria deles em seus 90 anos. E agora o estudo começou com os mais de 2 mil filhos desses homens. E eu, Robert Waldinger, sou o quarto diretor do estudo.
Desde 1938, o estudo segue as vidas de dois grupos de homens. O primeiro grupo começou quando estavam no segundo ano do Harvard College. Todos terminaram a faculdade durante a Segunda Guerra Mundial, e a maioria saiu para servir na guerra. O segundo grupo foi de meninos dos bairros mais pobres de Boston, escolhidos para o estudo justamente porque eram de algumas das famílias mais problemáticas e desfavorecidas de Boston dos anos 30.
Esses adolescentes se tornaram trabalhadores de fábricas e advogados, pedreiros e médicos, um presidente dos Estados Unidos. Alguns desenvolveram alcoolismo. Alguns desenvolveram esquizofrenia. Alguns subiram a escala social do fundo até o topo, e alguns fizeram essa jornada na direção oposta.
Para obter o perfil mais claro dessas vidas, eles não respondem questionários. São sempre entrevistados em suas casas. Nós vasculhamos seus registros médicos, varremos seus cérebros, conversamos com seus filhos. E então, quais as lições que vêm das dezenas de milhares de páginas de informações dessas vidas? As lições não são sobre riqueza ou fama ou trabalhar mais e mais. A mensagem mais clara que obtemos deste estudo de 75 anos é a seguinte: boas relações nos mantêm mais felizes e saudáveis. Ponto.
Aprendemos três grandes lições sobre relacionamentos. A primeira é que as conexões sociais são realmente importantes para nós, e que a solidão mata. Acontece que as pessoas que estão mais ligadas socialmente à família, aos amigos, à comunidade, estão mais felizes, são fisicamente mais saudáveis vivem mais tempo do que as pessoas menos bem conectadas. E a experiência da solidão acaba por ser tóxica. As pessoas que estão mais isoladas do que gostariam de estar acham que são menos felizes, a saúde delas declina mais cedo na meia-idade, o funcionamento cerebral diminui mais cedo e vivem vidas mais curtas do que as pessoas que não estão solitárias.
A segunda grande lição que aprendemos não diz respeito ao número de amigos que você tem. É a qualidade dos nossos relacionamentos próximos que importa. Viver no meio de um conflito é realmente ruim para a nossa saúde. Casamentos de constantes conflitos, por exemplo, sem muita afeição, acabam por ser muito ruins para nossa saúde, talvez pior do que se divorciar.
Quando reunimos tudo o que sabíamos sobre estes homens aos 50 anos, não eram seus níveis de colesterol de meia-idade que prediziam como eles iriam envelhecer. Era o quão satisfeitos eles estavam em seus relacionamentos. As pessoas que estavam mais satisfeitas em seus relacionamentos com 50 anos de idade foram as mais saudáveis aos 80 anos.
E a terceira grande lição é que os bons relacionamentos não apenas protegem nossos corpos, eles protegem nossos cérebros. Aos 80 anos, estar firmemente ligado a outra pessoa é algo confortante. As pessoas que estão em relacionamentos, onde eles realmente sentem que podem contar com a outra pessoa em momentos de necessidade, conservam a memória mais nítida por mais tempo. E esses bons relacionamentos, eles não precisam ser suaves o tempo todo. Alguns dos casais octogenários da pesquisa podiam brigar um com o outro dia após dia, mas enquanto eles sentiam que realmente podiam contar com o outro quando as coisas ficavam difíceis, isso ajudou muito a guardarem suas memórias.
Dizer que relacionamentos īntimos são bons para a nossa saúde e bem-estar parece algo óbvio. Mas por que isso é tão difícil de se obter e tão fácil de se ignorar? Bem, somos humanos. Relacionamentos são confusos e complicados e o trabalho duro de cuidar do relacionamento com família e amigos, não é sexy nem glamouroso. É pra ser feito ao longo da vida. Nunca acaba. Nesse estudo, as pessoas de 75 anos que foram mais felizes na aposentadoria foram as pessoas que trabalharam ativamente para substituir os companheiros de trabalho por novos companheiros de diversão durante o tempo livre de aposentado. 
Gostaria de encerrar com uma citação de Mark Twain. Mais de um século atrás, ele estava olhando para trás em sua vida, e ele escreveu: "Tão breve é a vida. Não há tempo para brigas, desculpas, corações partidos, cobranças para prestação de contas. Há apenas tempo para amar, e há apenas um instante, por assim dizer, para isso".
Uma vida boa é construída com bons relacionamentos.


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