domingo, 12 de fevereiro de 2017

Como Reduzir um Comportamento Agressivo em Crianças com Autismo

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Muitas crianças autistas não são agressivas, mas tantas outras têm colapsos e fazem birras incríveis quando são expostas a circunstâncias complicadas ou não conseguem o que querem. Elas não reagem desse jeito “só para dar trabalho”, mas porque não sabem como reagir. Com algumas técnicas simples, você conseguirá reduzir essas crises e melhorar o autocontrole da criança autista.

1. Lidando Com as Crises

1.1   Pense na Causa do Colapso

Um colapso acontece quando a criança autista não consegue mais lidar com algum fator estressante que tem sido contido de alguma forma, gerando uma crise de birra. O colapso costuma ser causado por frustrações também. Crianças autistas não fazem birra de propósito, mas porque algo as estressa. Essa é uma forma de expressarem que não conseguem lidar com a situação, estímulo ou alteração na rotina. Elas têm um ataque como recurso de comunicação, especialmente quando todas as outras tentativas não deram certo.
  • A birra tem muitas faces. Ela pode ocorrer em forma de gritos, choros, a criança pode cobrir as orelhas com as mãos, se machucar propositalmente ou agressão.
  • 1.2   Tente Fazer a Vida Doméstica da Criança mais Confortável

    Já que as birras são causadas pelo acúmulo do estresse, criar um ambiente harmonioso e amigável pode minimizar tais fatores na vida dela.
    • Desenvolva uma rotina para a criança sentir estabilidade. Fazer uma agenda com imagens pode ajudar a criança a visualizar e entender a rotina.[1]
    • Caso as mudanças sejam necessárias, prepare a criança para o que acontecerá com imagens e histórias sociais. Explique por que essas mudanças são necessárias, isso a ajudará a a entender o que está acontecendo e o que esperar. Assim, ela ficará mais calma quando as alterações ocorrerem.
    • Permita que a criança se retire das situações estressantes quando for necessário

    1.3   Ensine-a Técnicas para Lidar com o Estresse.

  • Algumas crianças autistas simplesmente não sabem como lidar com suas emoções e podem precisar de uma mãozinha extra. Parabenize-a quando ela mostrar que está usando as técnicas corretamente.
    • Crie alternativas para determinados fatores estressantes (som muito alto, lugares muito cheios, etc.).
    • Ensine técnicas para se acalmar: respirar fundo, contar, se afastar, etc.
    • Desenvolva um método para a criança conseguir comunicar que algo a está incomodando.

    1.4   Perceba Quando a Criança está Estressada e dê Importância aos Sentimentos dela.

    Saber que as necessidades dela são normais e importantes como as de qualquer um é importante para ela se expressar adequadamente.
    • "Seu rosto está todo tenso. O barulho está incomodando você? Posso falar para suas irmãs brincarem lá fora."
    • "Você parece irritado hoje. Quer me contar o que está lhe aborrecendo?”

    1.5   Demonstre Bons Exemplos de Comportamento

    A criança vê quando você está estressado e aprende a imitar o seu jeito de lidar com as coisas. Manter a calma, expressar seus sentimentos com clareza e tirar um momento para se acalmar ensinarão a criança a fazer o mesmo.
    • Tente verbalizar suas decisões: “Estou aborrecido, vou parar um pouco e respirar fundo algumas vezes, depois eu volto”.
    • Depois que você repetir um comportamento algumas vezes, a criança provavelmente tentará fazer o mesmo por conta própria.

    1.6   Crie um Ambiente Calmo para a Criança.

    É importante reconhecer que ela pode ter dificuldades em processar e absorver muitos estímulos visuais, sons, odores e texturas. Todos esses fatores podem ser estressantes e sobrecarregá-la, gerando crises de birra. Sendo assim, um ambiente tranquilo pode ajudá-la a se acalmar.[2]
    • Ensine a criança a expressar que quer ir para o quarto da calma. Pode ser apontando para o cômodo, mostrando uma imagem que represente quarto, linguagem de sinais e pedir verbalmente.

    1.7   Faça um registro dos colapsos.

    Anotar cada vez que a criança tem um ataque pode ajudar a entender as razões para o comportamento dela. Tente responder as seguintes perguntas quando escrever sobre a próxima ocorrência:
    • O que a chateou?(Talvez ela esteja segurando o estresse há horas).
    • Quais sinais de estresse ela demonstra?
    • Quando/Se você percebeu que ela estava aborrecida, o que fez? Deu certo?
    • Como você poderia prevenir um colapso futuro?

    1.8   Converse com a criança sobre agressões e mau comportamento.

    Lembre-se, autismo não é uma desculpa para a criança ser agressiva e maldosa. Caso ele exiba esse comportamento, converse com a criança assim que ela se acalmar. Explique qual atitude específica é inaceitável e ofereça uma alternativa.
    • "Não foi legal bater no seu irmão. Eu entendo que você esteja bravo, mas bater nas pessoas machuca e não é legal fazer isso. Quando estiver irritado, respire fundo por um tempo e conte para mim o que aconteceu. Você não pode sair batendo nas pessoas."

    1.9   Ligue para alguém responsável pela criança além de você durante uma crise.

    Existem casos em que pessoas autistas foram traumatizadas ou assassinadas pela polícia.[3][4] Caso a situação seja urgente, peça ajuda de outro responsável.
    • Ligue para a polícia em casos extremos ou situações potencialmente perigosas para a saúde. Eles podem ser violentos com a criança, o que pode desencadear o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e piorar a situação.[5][6][7]

    2. Lidando Com as Birras

    2.1 Reflita sobre como suas ações afetam as birras.

    Com a birra, a criança espera conseguir o que quer e ela aprenderá exatamente isso se você ceder (por exemplo, dando o sorvete que ela pediu fazendo a birra, ou permitindo que ela vá dormir mais tarde).

    2.2 Resolva o problema comportamental cedo.

    É mais fácil lidar com as birras se o austista em questão é uma criança. Por exemplo, um menino de seis anos se jogando no chão é muito mais simples de lidar do que um de 16 anos. Além disso, menores são as chances de a criança se ferir, ou aos outros.[8]

    2.3 Ignore a birra.

    Melhor do que gritar, xingar e se descontrolar é ignorar ostensivamente. Isso ensinará a criança que este não é um bom método para conseguir atenção. É útil falar com todas as letras que isso é ineficaz, algo como “Não consigo entender o que há de errado com você gritando deste jeito. Mas se quiser se acalmar e me explicar o que está acontecendo, sou todo ouvidos."

    2.4 Intervenha se a criança estiver fazendo algo perigoso ou sendo maldosa.

    Sempre interfira se ela começar a arremessar objetos, pegar pertences dos outros ou bater. Diga para ela parar e explique que esse comportamento está errado e é inaceitável.

    2.5 Ofereça a alternativa do bom comportamento.

    Diga para a criança que ela pode escolher agir de um jeito melhor para conseguir o que quer. Explicar isso a ajudará a entender que existem meios mais simples de se conseguir o que quer (como escutar e ceder).
    • Por exemplo, você pode dizer “Se quer ajuda, respire fundo e diga o que há de errado. Estou aqui para você”.

    3. Usando a sigla “ACC”

    3.1 Antecipe o Problema.

    Registre (de preferência em um diário físico) quando as crises acontecem; antes de sair de casa, antes do banho, na hora de dormir, etc. Escreva o ACC – antecedentes, comportamento e consequências – do problema. Com isso você conseguirá prever a atitude da criança e o que pode fazer para prevenir e resolver o problema quando acontecer.[9]
    • Antecedentes: Quais os fatores que desencadearam a crise (dia, horário, lugar e acontecimento)? Como esses fatores influenciam o problema? A atividade que estavam fazendo era irritante ou dolorosa?
    • Comportamento: quais atitudes a criança tomou? Como ela reagiu à ação?
    • Consequências: quais foram os resultados da reação da criança? O que você fez? O que aconteceu com ela?

    3.2 Use o diário do ACC para identificar possíveis gatilhos para as crises.

    Use esse conhecimento para ensinar a relação de ação e reação apropriadas para a criança. Ensine que, quando ela se irritar com alguém porque quebraram seu brinquedo, é um momento para se pedir ajuda, não se aborrecer.[10]

    3.3 Discuta o diário ACC com um terapeuta.

    Depois de coletar essas informações, é uma boa ideia compartilhá-las com um terapeuta, para ter um bom exemplo do comportamento da criança em situações específicas.

    4. Ajudando a criança a se comunicar

    4.1 Ajude a criança a expressar suas necessidades básicas.

    Quando ela souber verbalizar o que a está incomodando, é menos provável que acumule estresse, ou precise apelar para o mau comportamento.[11] A criança precisa conseguir reconhecer e expressar as seguintes necessidades:
    • "Estou com fome."
    • "Estou cansado."
    • "Eu quero ficar sozinho."
    • "Isso dói."

    4.2 Ensine a criança a identificar as próprias emoções.

    Muitas crianças autistas têm problemas para compreender o que sentem e é importante que elas aprendam a apontar para imagens ou reconhecer sintomas físicos que vêm com os sentimentos. Explique que falar como se sente para as pessoas (por exemplo, “O supermercado me dá medo”) permite que elas possam ajudar a resolver o problema, como “Você pode ficar lá fora com sua irmã enquanto eu termino as compras”.
    • Deixe claro que, se ela souber se comunicar, você conseguirá entender. Isso elimina a necessidade da birra.

    4.3 Permaneça calmo e consistente.

    Crianças que fazem birra precisam que a figura materna/paterna seja calma e estável, além de ter que consistir com o comportamento de todos os envolvidos nos cuidados dela. Não tem como ensinar autocontrole para uma criança se você não tiver autocontrole antes.[12]

    4.4 Saiba que a criança quer se comportar bem.

    Isso chama “capacidade presumida” e ajuda muito a melhorar as habilidades sociais de pessoas autistas. Com isso, é muito mais fácil que eles se abram, pois se sentem respeitados

    4.5 Tente modelos de comunicação alternativa.

    Uma criança autista que ainda não está pronta para falar requer outros métodos de comunicação. Tente linguagem de sinais, digitação, uso de imagens alternadas, ou qualquer coisa que um terapeuta recomendaria.

    5 Tentando outras estratégias

    5.1 Saiba que suas atitudes podem influenciar as crises de birra.

    Por exemplo, se você continuar fazendo algo que a aborrece (como expô-la a estímulos sensoriais dolorosos, ou forçando algo que ela não quer) ela pode explodir. A criança faz birra quando percebe que é o único jeito de fazer os pais darem bola para o que ela quer, pensa e sente.[13]

    5.2 Trate a criança com respeito.

    Forçá-la a fazer coisas com as quais ela não se sente confortável, ou restringi-la mental ou fisicamente pode ser danoso. Respeite a autonomia de seu filho.
    • É claro que há momentos em que não se pode ceder, porém, diga o motivo para a criança: “Você precisa sentar no seu assento no carro porque ele o protegerá caso um acidente aconteça”.
    • Se algo o incomoda, descubra o que é e tente resolver o problema. “O assento é desconfortável? Que tal colocarmos uma almofada nele?”

    5.3 Use medicamentos.

    Remédios como inibidores seletivos de recaptação de serotonina,[14] (ISRS), antipsicóticos[15] e estabilizadores de humor podem ser parcialmente úteis para ajudar crianças birrentas. No entanto, como em qualquer caso que envolva remédios, existem efeitos colaterais. Esta não é uma decisão que deva ser tomada irrefletidamente. Tenha tempo para pensar a respeito e consulte um médico sobre a real necessidade de utilizar remédios.[16]
    • Há dados que comprovam que a Risperidona tem bons resultados no tratamento em curto prazo de comportamentos agressivos e automutilação em crianças autistas. Converse com um médico ou terapeuta sobre os prós e contras em adotá-lo como tratamento.

    5.4 Procure a ajuda de um terapeuta.

    Ele poderá melhorar as habilidades de comunicação da criança. Busque um que trabalhe com crianças autistas. Seu médico, ou os muitos centros de apoio à criança autista certamente têm recomendações.[17]

    5.5 Facilite os passos da criança.

    Por exemplo, se ela não gosta de se vestir, quebre o processo em passos básicos e faça um por um. Isso o ajudará a entender quais são algumas das dificuldades que seu filho sente em relação a determinadas atividades. Assim, sem nem mesmo falar, a criança demonstrará um problema que a incomoda. [1
    5.6 Use histórias sociais, livros com imagens e a hora de brincar para ensinar sobre bom comportamento.
    A biblioteca está cheia de livros que ensinam diferentes habilidades para as crianças. Além disso, você também pode usar a hora da brincadeira para ensiná-la a se comportar.
    • Por exemplo, se uma das bonecas está brava, você pode fazer com que ela saia do círculo de bonecas por um momento, para respirar fundo e se acalmar. A criança aprenderá que isso é o que as pessoas fazem quando se aborrecem.

    5. 7 Desenvolva um sistema de recompensas.

    Trabalhe com um especialista para adotar um sistema onde a criança seja recompensada por manter a calma. Os prêmios podem variar de elogios (“Você se comportou tão bem no supermercado, estou tão orgulhoso!”) a estrelinhas douradas na agenda e presentinhos. Ajude-a a sentir orgulho de suas conquistas.

    5.8 Dê muito amor e atenção para seu filho.

    Se vocês tiverem um laço forte, ele aprenderá a vir até você quando precisar de ajuda e apoio e dará ouvidos a tudo que disser.

     DICAS

    • Seja paciente. Sua paciência pode se esgotar várias vezes, mas é importante parecer calmo e controlado para que a criança também permaneça calma.
    • Lembre-se de que pessoas autistas não gostam de ter colapsos. Depois de um episódio, a criança provavelmente sente vergonha e culpa por ter perdido o controle. Seja compreensivo.
    • Inclua a criança quando estiverem desenvolvendo as estratégias. Isso a ajudará a sentir que faz parte e que tem controle no tratamento que recebe.
    • Às vezes as crises são desencadeadas por uma sobrecarga sensorial, que é quando um autista recebe uma quantidade muito grande de estímulos. Isso pode ser tratado com terapia de integração. Ela diminui a sensibilidade e permite que o autista lide melhor com isso.
    • Converse com um médico ou terapeuta antes de fazer grandes mudanças no seu estilo de vida e de sua família.

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