quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O verdadeiro sentido do Natal

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
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O Natal é uma festa que ultrapassou os limites da cristandade. O conhecido “espírito natalino” toma conta do mundo inteiro nos últimos dias de cada ano. Chineses e africanos, canadenses e russos, europeus e asiáticos, gente de todas as línguas, povos e nações param para comprar um presente, contemplar uma árvore iluminada e cantar “noite feliz”. Muitos destes sequer saberiam dizer quem é o dono da festa. Para alguns seria um simpático velhinho de barbas brancas que viria mitologicamente do céu com seu trenó e suas renas para trazer a solução mágica para todos os problemas: o Papai Noel. Mal imaginam que este personagem foi criado nos Estados Unidos na metade do século 19 como uma versão comercial de um generoso bispo do século 4º que viveu na atual Turquia e que costumava dar presentes para os pobres: São Nicolau.

Qual seria, então o verdadeiro sentido do natal? Qualquer cristão praticante responderia a esta pergunta sem pensar duas vezes: celebramos o nascimento do nosso salvador, Jesus Cristo. Segundo os evangelhos ele nasceu há dois mil anos no seio de uma família, Maria e José, na cidade de Belém, em um lugar muito simples, uma estrebaria; foi saudado pelos anjos e recebeu presentes de sábios vindos do oriente, que chegaram até o lugar do seu nascimento guiados por uma estrela. Esta cena é retratada todos os anos na cenografia do “presépio”, que teria sido criado pela primeira vez por São Francisco de Assis no século 13 como um recurso de catequese popular. Mas sabemos que já nos primórdios do cristianismo a cena impactava o imaginário dos cristãos e chegou a ser pintada nas catacumbas de Roma. Mas e o boi e o jumento que aparecem no presépio? Eles não estão nos evangelhos de Mateus e Lucas que narram a cena! Certamente a sua origem está no Antigo Testamento em textos como o do profeta Isaías (1,3) que afirma que até o boi e o burro são capazes de perceber o seu proprietário, mas o povo de Deus nem sempre reconhece o Messias.  Seguindo na mesma linha o profeta Habacuc situa a manifestação do Messias entre os animais. Alguém poderia dizer: mas nos presépios originais não havia o pinheiro iluminado. De onde teria vido esta tradição? Ele surge apenas no século 11 nos teatros populares europeus que procuravam contar o nascimento de Jesus. Era uma alusão à árvore do paraíso, carregada de frutos. A forma como conhecemos hoje, inclusive com neve, surgiu no século 16 na região da Alsácia, entre a Alemanha e a França. Os frutos foram substituídos por outros ornamentos e a árvore foi completamente iluminada. É claro que o comércio se encarregou de sofisticar este símbolo popular. Em 1912, em Boston, nos Estados Unidos, uma grande árvore de natal foi ornamentada e iluminada em praça pública. Rapidamente o costume se espalhou por todo o planeta.

Podemos observar que o Natal é um evento de grande impacto fora das igrejas, nas famílias e nas praças. Mas dentro das celebrações cristãs oficiais, como teria surgido o Natal? No início do cristianismo o ano litúrgico era marcado apenas por uma grande festa: a Páscoa. Seguindo a tradição judaica os cristãos calculavam a sua data a partir do calendário lunar. Enquanto os judeus comemoravam a libertação do Egito com a Ceia Pascal, os cristãos celebravam a ressurreição de Jesus, com a vigília Pascal. Ao terminar esta vigília a aurora era celebrada como a chegada do “sol nascente a luz do alto que veio nos visitar” (Lc 1, 78). Aos poucos a páscoa cristã começou a ser preparada por quarenta dias de penitência, a Quaresma, e depois dela vinham cinquenta dias de espera pela vinda do Espírito Santo, o Pentecostes. Esta arquitetura do Mistério Pascal celebrado no tempo cronológico, porém, tinha uma falha. O início do ano era marcado pela Páscoa, mas o final do ano era habitado por uma série de festas pagãs. Em Roma, por exemplo, o dia mais longo do inverno, em dezembro, era celebrado em honra ao “deus sol”. A partir do século 4º o cristianismo começa a dar um sentido cristão a estas festas do sol, entendendo que Jesus Cristo é o verdadeiro “sol nascente”. A primeira notícia que temos da celebração do natal cristão no dia 25 de dezembro vem do ano 354, em Roma. Nos anos seguintes esta data começou a ser celebrada de modo fixo no dia 25 de dezembro pelos cristãos ocidentais e no oriente no dia 06 de janeiro. Este costume rapidamente foi assimilado também pelo ocidente e o Natal recebeu, assim como o ciclo pascal, um tempo de preparação, chamado advento e um tempo de repercussão, chamado “epifania”, que significa manifestação. Devemos grande parte desta arquitetura do Natal ao Papa São Leão Magno (440-461) que nos deixou belíssimas homilias natalinas. Este é o grande teólogo do Natal.

O Natal, portanto, é uma festa da prece e da praça, da Igreja e da sociedade, dos que creem e dos que preferem não crer, mas não resistem a cantar o “noite feliz”, render-se ao espírito natalino e dar um presente para alguém. É uma festa contagiante que nos coloca em torno de uma criança, que é a nossa salvação. Isto nos enche de esperança e nos faz parar para pensar. Se a páscoa é a festa da lua, o natal é a festa do sol. As duas nos resgatam do ritmo cronométrico do relógio e nos colocam no ritmo humano da natureza. Viver o natal é sair da sofisticação complicada e assumir a cultura da vida simples e sóbria. O messias no presépio entre anjos e animais é um grito contra a complicação da vida moderna que sequestrou nossa felicidade. É tão simples, tão silencioso, tão fácil… parar um dia e eternizar o natal. Todo dia podemos renascer como faz o sol. O Sol Nascente, a Luz do Alto nos visitou para dizer que a noite pode ser feliz se acreditarmos que depois dela, um novo amanhecer virá. O natal, enfim, é a festa da esperança. Nosso forte e infinito Deus assume fragilidade e a simplicidade de uma criança. Será necessário cuidar deste menino que será o nosso Salvador. Este Menino-Deus mora no coração de cada um precisa de cuidados. Até os animais já perceberam: Deus está no meio de nós. Feliz Natal.

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