Encontrar um equilíbrio saudável entre a preservação da intimidade e a curiosidade dos paparazzi tornou-se, para figuras públicas, uma espécie de ciência. Nela, os mais graduados são aqueles que sabem dosar quanto vão expor. Uma aula dessa receita, que desanda para a maioria das celebridades, foi dada na semana passada pelos apresentadores globais William Bonner e Fátima Bernardes, nomes inseparáveis até então, quando anunciaram o fim do casamento de 26 anos. “O Mickey e a Minnie” da TV brasileira, como certa vez a própria Fátima definiu, revelaram a separação via Twitter e em posts idênticos, que assim se encerravam: “É tudo o que temos a declarar sobre o assunto. Agradecemos a compreensão, o carinho e o respeito de sempre”.
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Prova do traquejo do casal ao lidar com holofotes, a crise conjugal passou praticamente em branco pelas colunas de fofocas. Nunca se viu uma única discussão em público. Embora não pose junto desde uma festa da Rede Globo em 2013, o casal sempre cumpriu a regra básica de agradar ao público deixando entrever um ou outro momento privado. A família (raramente os dois sozinhos) foi flagrada no shopping, no teatro, em passeio. Quando os dois resolveram abrir o jogo na semana passada, diluíram o impacto do anúncio-bomba ao soltá- lo na rede depois de uma edição do Jornal Nacional tomada pelo noticiário sobre o impeachment iminente.
Diluíram, em termos. O número de menções no Twitter, depois do anúncio, foi um dilúvio de proporções bíblicas, uma onda avassaladora e inescapável: entre o comunicado do casal, às 21h33, e o começo da tarde do dia seguinte, a separação ganhou do impeachment de Dilma Rousseff de 709 000 a 287 000 citações.
Em nenhuma palavra, expressão ou gesto, Fátima, 53 anos, e Bonner, 52, deixaram escapar qualquer reação à separação ou à enxurrada de comentários, memes, piadas e lamentos que inundaram a internet. No dia seguinte, os dois seguiram a rotina como se nada houvera. Ela logo de manhã cedo, no Encontro com Fátima Bernardes. Ele à noite, na bancada do JN. De diferente, a fulgurante ausência de aliança no dedo. No caso de Bonner, a ausência foi dupla — sumiram a aliança de casamento e um anel na mão direita, de prata, “presente da patroa”, segundo um post dele de 2010.
Para quem trabalha perto dos dois, o desgaste no relacionamento não era novidade. No começo do ano, quando Fátima se afastou de seu programa por alguns dias alegando doença, o comentário nos bastidores era que a ausência se devia, na verdade, à turbulência emocional que atravessava. Junto com os rumores sobre a crise do casamento vieram imediatamente supostos pivôs. Primeiro se falou na deslumbrante Maria Júlia Coutinho, a Maju, moça do tempo do JN. Depois, brotou o nome de uma jornalista, recém-separada. Ambas as histórias foram desmentidas por pessoas próximas ao casal.
Em uma manhã de julho, Fátima, mulher que não se emociona (“O chorão em casa é o William”), caiu em lágrimas nos bastidores. Mais ou menos por essa época, Bonner se mudou para um apartamento de quatro quartos, avaliado em 5 milhões de reais, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio. Ele reformou e decorou o imóvel em que ela nunca pôs os pés. Adepto de exercícios físicos, o apresentador é visto, frequentemente, com roupa de ginástica pelas ruas do bairro. Fátima continua com os filhos trigêmeos, de 18 anos, na casa na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Segundo amigos, quando os três recentemente viajaram para um intercâmbio, o casal já mal se falava.
Fátima e Bonner se mantêm firmes no papel de separados para quem a vida não mudou, com o vigoroso apoio de uma blindagem montada pela Globo. A equipe do programa dela está ciente de que o diretor José Bonifácio Oliveira, o Boninho, não quer que se fale no assunto. No JN, em que Bonner está no comando, a proibição nem precisou ser verbalizada. A Globo contratou um serviço para quantificar e monitorar a repercussão na internet. Dois apresentadores que têm na credibilidade seu maior patrimônio não querem e não podem resvalar em escândalos e fofocas. A vida — pública — continua. A intimidade é apenas deles.
Por Pedro Moraes e Sofia Cerqueira
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