Toda vez que eu conto que tive um relacionamento de oito anos a reação das pessoas é muito parecida. Por que não deu certo? Bem, ele deu certo durante pelo menos uns sete anos e meio, e é isso o que conta. É o que deveria contar.
O último semestre foi uma porcaria. Tenho certeza de que ele me olhava, fazia um esforço descomunal, mas só tinha vontade de bocejar. E esse negócio de bocejar pega. Logo, eu também só bocejava e acabou. Não teve chifre, não teve filhadaputagem, só não tinha mais amor.
Por sete anos e meio fomos muito felizes e eu sempre imaginei que ficaríamos juntos para sempre. Mas "para sempre" sempre acaba, como já sabemos. Ou pelo menos quase sempre. Cada vez com mais frequência. Nem por isso devíamos nos sentir fracassados pelo fim, apenas encarar que a vida é um fim tosco de novela.
As relações têm prazo de validade, duram o tempo exato que conseguem manter fôlego, amor, tesão, parceria. Hoje vejo que se tivesse entendido isso mais cedo, teria sofrido menos por amores que já tinham dado o último suspiro. A gente mantém relações respirando por aparelhos, queremos salvar na base do boca a boca, mas sabemos quando a morte é inevitável porque os sentimentos que restam são menos nobres do que amor.
Quem nunca insistiu numa história por teimosia, orgulho, carência, burrice? A maioria delas não foi feita para dar certo, mas a gente simplesmente não acredita que as nossas histórias são mais ordinárias e menos românticas.
Não é o tempo que determina a intensidade de um amor ou o que ele tem de verdadeiro. Amores dão certo por uma noite, três meses, 5, 12, 25 anos. E não funcionam durante toda sorte de tempo. Fui profundamente infeliz nos dois anos de uma relação que começou errada e terminou pior ainda. Cismei que era amor, mas era só um equívoco. A gente insiste em histórias que têm enredo fraco e depois lamenta porque não deram certo. Porque não são amores, são só arapucas. E que difícil resistir a uma arapuca, uma roubada, um amor vagabundo.
Lembro que me senti escandalosamente amada, apaixonada e completa por um amor de verão, em Praga, que durou uma semana. Sete dias. E faz parte da minha listinha de relações que deram certo. Funcionou por esse breve suspiro num cenário de filme, com noites intermináveis e cerveja tcheca. O que não daria certo num cenário de filme com cerveja tcheca? Provavelmente não resistiria à rotina do trabalho, das contas e de Skol. Nunca saberei, não importa. Já deu certo.
E a gente sofre. Por causa de um final de semana ou pelo relacionamento de uma vida. E sofre pelos outros. Lamenta por todo final de história de amor que gostaríamos que fosse nossa. Olhamos aqueles casais aparentemente tão felizes, tão harmoniosos, tão bem encaixadinhos, e, então, eles simplesmente acabam com nossos sonhos. Cada um pega sua escova de dentes e tchau.
Sofri mais com o fim do casamento de amigos queridos do que com o meu próprio. O meu, aquele de dois anos em que fui infeliz, era uma porcaria, mas o deles, o deles era perfeito. Mentira, não era, mas a gente quer acreditar que sim, e então eles estragam tudo e esfregam na nossa cara a dura realidade de que o amor acaba para todo mundo.
Acaba, mas recomeça para todo mundo também. Próximo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário