domingo, 17 de julho de 2016

EXPERIÊNCIAS DE UMA VIDA…

domingo, 17 de julho de 2016

No jardim, ainda sentado e apreciando as flores, como faço todas as manhãs, me vejo perdido em meio a tantas recordações. Vejo meu neto correndo em minha direção e volto ao passado…. Lembro-me de alguns momentos da minha vida: foram muitos momentos de felicidade extrema e silenciosos momentos de tristeza. Lembro-me de como era ser criança, das brincadeiras, da diversão e de como tudo era simples. Esse garoto tem tanto para conhecer da vida…. Lembro-me de como é ser jovem e estar disposto para a vida…. De como é amar alguém especial e sentir-se amado de volta…. Lembro-me da experiência mais linda que vivenciei: envolver, pela primeira vez, o meu filho recém-nascido pelos braços, olhar para seus olhos e sentir todo amor que estava reservado somente para ele brotar… tudo na vida para diante de momentos únicos e especiais. Dali para frente, eu faria tudo ao meu alcance para protegê-lo e lhe proporcionar o melhor. E assim foi… vê-lo crescer e se tornar um homem honesto e trabalhador me trouxe muita satisfação. São muitas memórias… e algumas me fazem lembrar da dor que uma despedida causa. Minha esposa partiu muito jovem, eu pensei que minha vida acabaria ali, junto à dela; ela ainda faz muita falta…, mas aprendi a aceitar e continuar minha caminhada. A vida pode mudar repentinamente e é preciso estar preparado para as tempestades que se aproximam. A vida é como a natureza: vivemos de estações. É preciso ser forte para enfrentar seus desafios e buscar a sabedoria de cada fase. Na velhice enxergamos a vida de outra forma…. Às vezes eu penso que tudo poderia ser diferente, isso como se tivéssemos a opção de voltar ao passado e fez tudo de outra maneira; mas percebo que o que aconteceu, aconteceu por uma razão e não penso mais nisso. Eu costumava ser muito bom com as mãos, entalhava em madeira: fazia moveis, gravuras, esculpia…. Hoje olho para elas e sinto certa dificuldade em movimentá-las, meus dedos já não são como antes. Acho que já passou esse tempo. Minha memória também não é mas a mesma, tento lembrar o nome do meu filho e dos meus netos, mas as vezes é tão difícil…. É sempre muito difícil…. Isso não muda o amor que sinto por eles. Eu sempre vou amá-los, mesmo que não me lembre de seus nomes. Na minha mente vejo meu filho quando criança, correndo pela casa enquanto a sua mãe o adverte a tomar cuidado e não se machucar esbarrando em algum móvel. São lembranças muito bonitas, que não desejo perder.
– Por que a gente envelhece vovô?
Eu te respondo meu menino! Porque envelhecer ensina a gente sobre o começo e o fim das coisas…. Quando você olhar para um homem mais velho, faça uma saudação a si mesmo daqui há alguns anos. A vida nos dá o vigor da juventude e quando chegamos ao auge do nosso potencial, ela nos tira aos poucos aquilo que nos fazia tão autossuficientes – é quando percebemos o nosso real tamanho. Achamos que somos invencíveis quando jovens – meu menino – e que nunca precisaremos da ajuda de ninguém. Mas na velhice, ah… na velhice, a gente aprende que a vida é um ciclo…, somos cuidados pelas mãos caridosas de alguém quando chegamos nessa vida, e ao final dela carecemos do mesmo auxílio que encontramos no começo. A medida que envelhecemos aprendemos mais sobre nossa mortalidade e ganhamos um pouco mais de consciência da nossa finitude. Podemos escolher viver em função do amanhã, que nunca chega, ou do passado, que não se pode mudar. O hoje é o melhor tempo para se viver… lembre-se disso meu menino! Certamente há um mistério que ainda não nos foi revelado. Talvez quando fecharmos a última porta em direção a eternidade, compreenderemos o sentido de tudo. Ah… meu menino, somos tão arrogantes! Achamos que controlamos a vida, quando é justo ela que nos controla. Sabe do que eu tenho mais medo? De um dia não ser lembrado por aqueles que eu tanto amo. Talvez eu esqueça esse medo também…. Talvez não! Nós sempre teremos medos, aprenda isso meu menino. O medo tem a sua função, só não se deixe ser controlado por ele. Uma vida repleta de medos é insuportável! Veja, quando se é velho, os nossos filhos não têm muito tempo para nos ouvir, nem dão muita importância para o que queremos dizer, as vezes só queremos ajudar, mas não somos bem compreendidos. Ah, meu menino, como somos orgulhosos…. Eu me lembro que fazia o mesmo com meus pais, as vezes eles só queriam me ver bem, mas eu precisava passar por minhas próprias experiências para entender aquilo que eles tentavam me alertar. Às vezes é preciso sentir dor para aprender, meu menino. Às vezes um tropeço ensina mais do que um conselho. Aí um dia você aprende a enxergar além do sofrimento e descobre a paz, assim como seu velho avô descobriu. Mas tudo isso ainda é muito complicado para você… no tempo certo você vai lembrar dos conselhos do seu velho avô e entenderá. Até lá, viva o máximo que puder para não chegar na velhice cheio de arrependimentos e amarguras. Aprenda a perdoar, porque cada perdão que você libera deixa o seu fardo mais leve e a caminhada mais agradável. Não espere muito para ser feliz… costure a sua felicidade de pequenas alegrias. Entregue-se completamente às experiências que a vida lhe conceder: é muito triste uma vida de meias porções. Lembre-se que tudo na vida tem um propósito, mais cedo ou mais tarde você entenderá. A vida parece tão injusta, não é? Mas não é. A vida nos concede uma infinidade de experiências únicas e marcantes. Sem perceber aprendemos mais sobre nós mesmos à medida que vivemos. Mas vamos deixar dessa conversa, venha cá e dê um abraço no seu avô. Pois há um tempo para tudo e um tudo para o tempo.
Fim!!!

Americo Queiroz Jr.

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