A Bíblia diz que para ver Deus é preciso morrer. Com a nossa natureza humana decaída pelo pecado original não podemos ve-Lo em seu fulgor e sua glória. Por isso Jesus se esconde no véu da Eucaristia. O Apóstolo diz que só na eternidade o veremos como Ele é, “face a face”. “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face”. (I Cor 13, 12)
Deus se mostra a nós de várias formas. Para que possamos entrar em Sua intimidade, Ele quis revelar-se a nós e dar-nos a graça de poder acolher esta revelação na fé.
Em primeiro lugar se revela a nós, por nós mesmos. Olhando a nossa beleza e grandeza podemos contemplar Deus, pois somos sua “imagem e semelhança” (Gen 1,26). Quando Ele nos criou, não foi buscar um “modelo” qualquer; não, “entrou dentro Dele mesmo” para nos fazer à Sua imagem. Não poderíamos ter sido criados de maneira mais bela, perfeita e delicada.
Contemplando o que somos, dotados de inteligência, liberdade, vontade, memória, capacidade de amar, cantar, chorar, projetar e construir… tocamos a face de Deus. Na verdade, cada um de nós é como uma desprezível gota de orvalho, que logo o sol seca, mas que quando ainda existe pode refletir a sua luz e a beleza do céu.
Somos um grão de areia no universo, mas somos maior do que ele, pois sentimos que ele não pode nos satisfazer; somos superior a ele. Somos pequenos cristais, mas que refletem a luz do Criador. Na Liturgia cantamos no “Santo, Santo, Santo”: “o céu e a terra proclamam a vossa glória”. E “tudo o que criaste proclama o Vosso louvor”.
Fomos criados para o “louvor da glória de Deus” (“laudem gloriae”) diz São Paulo. Fomos criados e redimidos para “para servirmos à celebração de sua glória” (Ef 1,2). Santo Irineu, por volta do ano 180, já dizia que “o homem é a glória de Deus”.
Com sua abertura à verdade e à beleza, com seu senso do bem moral, com sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem percebe sinais de sua alma espiritual, uma “semente de eternidade” que leva dentro de si, e sente que sua alma não pode ter origem senão em Deus. As faculdades do homem o tornam capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal.
Mas Deus se mostra também pela natureza; como que por um espelho. O mundo, a partir do seu movimento, da sua ordem e beleza, revela Deus como a origem e fim do universo. São Paulo afirma a respeito dos pagãos: “O que se pode conhecer de Deus é manifesto entre eles, pois Deus o revelou. Sua realidade invisível – seu eterno poder e sua divindade – tornou-se inteligível desde a criação do mundo através das criaturas” (Rm 1,19-20). Podemos vislumbrar Deus pela luz da razão.
Santo Agostinho pede-nos: “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se dilata e se difunde, interroga a beleza do céu… interroga todas estas realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino de louvor. Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo, não sujeito à mudança?” (Sermão 241,2).
E ainda: “A beleza do Universo é como um grande livro: contempla, examina, lê o que está em cima e embaixo. Por que buscas testemunhos mais eloquentes? O céu e a terra, estão gritando: “Fomos feitos por Deus”.
Prof. Felipe Aquino
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