domingo, 7 de agosto de 2016

FOI POR ISSO QUE PARTI…

domingo, 7 de agosto de 2016
Sei que é tarde pra voltar agora e dizer por que fui embora. Sei que a essa altura do campeonato você já se esqueceu que eu já esbarrei contigo pela vida, você indo e eu voltando, e já não precisa mais de nenhuma explicação.
É que eu precisava te contar o que se passou comigo naquele tempo em que a gente era apenas uma promessa. Você me conquistou antes mesmo que eu colocasse os meus olhos cheios de dúvidas nos seus cheios de esperança, mas meu medo foi maior do que a sua vontade de fazer com que a gente desse certo.
É que quando você me olhou eu vi no reflexo uma menina completamente aterrorizada com o futuro e com a possibilidade de alguém me amar. Eu não tinha forças pra retribuir o seu sentimento tão altruísta sem provocar algum estrago. E causar qualquer tipo de dor a você seria entrar em um círculo vicioso sem nenhuma chance de escapatória nem para mim e nem para você,por isso fui embora.

Sinto muito não ter sido dessa vez. Não ter sido a sua vez. A nossa vez. Eu fugi, mas foi para o seu próprio bem. Isso não fez de você alguém menos sensacional. Eu não estava acostumada com as coisas indo tão bem assim…Sou do tipo de pessoa que precisa do caos para apreciar a calmaria.
Preciso te explicar que quando até o nome da nossa filha já estava alinhado e combinado nos primeiros encontros, eu gelei. Preciso que saiba que quando você entrelaçou suas mãos nas minhas e elas se encaixaram perfeitamente, eu soube que era hora de ir. E aquela menina medrosa que vivia dentro de mim gritou tão alto que foi impossível conter seus receios, então eu corri pro lado contrário o mais rápido que pude até que seus olhos me perdessem de vista que era pra não ter chance de desistir enquanto você ficava lá sem entender nada, só me vendo partir. Escapar entre seus dedos e sumir da sua vida como em um passe de mágica. Eu desapareci. Eu fugi, mas foi para o seu próprio bem.
E é por isso que estou aqui agora depois de tanto tempo, só para te fazer entender que eu não queria te fazer sofrer e que eu não te merecia e acho que, no fundo, você também sabia. Sempre pronto para dar vida, reconstruir e dar alma a qualquer instrumento até que ele esteja pronto para tocar novamente. Você tinha tudo para ser meu luthier, mas eu jamais me perdoaria por colocar sobre os seus ombros o fardo pesado dos resquícios de um amor mal acabado e não superado do passado. Quem se apaixonaria por alguém com tantos ossos quebrados, arranhões e machucados?
Eu era um coração quebrado e mesmo com os seus dons sobrenaturais de consertar coisas quebradas você não merecia nenhuma dor, nem uma farpinha cravada entre seu polegar e o indicador e foi por isso que eu fugi. Porque ouvir mais uma canção do seu violão me faria desistir e foi por isso que eu sumi. Nem um adeus, nem um beijo de despedida, nem um osso quebrado. Sei que você estaria melhor com outro alguém do seu lado e foi por isso que parti.
CARLA ROCHA

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